Dislipidemias e padrão dietético ocidental

Dieta ocidental:

Açúcares refinados (doces, sucos industrializados e refrigerantes com alto teor de açúcar), gorduras animais (com predominância de gorduras saturadas e ômega-6), carnes processadas (especialmente, carne vermelha), grãos refinados, laticínios com elevada quantidade de gorduras, produtos de origem animal criados convencionalmente, sal, ovo, batata e milho (particularmente, processados, refinados, fritos
e/ou pré-embalados).

Frutas in natura, verduras, legumes, grãos integrais, produtos originários de animais alimentados com capim; peixes, oleaginosas e sementes.

CONSEQUÊNCIAS METABÓLICAS: hiperinsulinemia, resistência à insulina (RI), dislipidemia, superestimulação do sistema nervoso simpático, inflamação sistêmica de baixo grau, disbiose, endotoxemia, aumento da produção de espécies reativas de oxigênio (EROs) e estresse oxidativo (EO).

Fisiopatologias associadas com: obesidade, diabetes mellitus tipo 2, dislipidemias, doença inflamatória intestinal, neoplasias e doenças cardiovasculares (aterosclerose, cardiomiopatia, hipertensão e insuficiência cardíaca).

Outros componentes da dieta ocidental são os aditivos alimentares, como emulsificantes e adoçantes. Comumente utilizados em alimentos à base de gordura, os emulsificantes enfraquecem a barreira intestinal e estimulam a inflamação de baixo grau, contribuindo para obesidade e síndrome metabólica.
Fonte: Malesza et al. (2021)

Dislipidemias: classificações e interpretações

As dislipidemias podem ser classificadas em hiperlipidemias (níveis elevados de lipoproteínas) e hipolipidemias (níveis baixos de lipoproteínas). Ambas podem ter causas primárias (origem genética) e secundárias (oriundas do estilo de vida inadequado, condições clínicas e/ou medicamentos) (BRASIL, 2017).

Compreendendo as classificações laboratoriais

  • Hipercolesterolemia isolada: aumento isolado do LDL-c (LDL-c ≥ 160 mg/dl).
  • Hipertrigliceridemia isolada: aumento isolado dos triglicérides (TG ≥ 150 mg/dl ou ≥ 175 mg/dl, se a amostra for obtida sem jejum).
  • Hiperlipidemia mista: aumento do LDL-c (LDL-c ≥ 160 mg/dl) e dos TG (TG ≥ 150 mg/dl ou ≥ 175 mg/dl, se a amostra for obtida sem jejum). Se TG ≥ 400 mg/dl, o cálculo do LDL-c pela fórmula de Friede Wald é inadequado, devendo-se considerar a hiperlipidemia mista quando o não HDL-c ≥ 190 mg/dl.
  • HDL-c baixo: redução do HDL-c (homens < 40 mg/dl e mulheres < 50 mg/dl) isolada ou em associação ao aumento de LDL-c ou de TG.

Terapia nutricional nas alterações dislipidêmicas

As Atualizações da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose de 2017 reforçam a necessidade de uma dieta isenta de ácidos graxos trans, consumo de < 10% do valor calórico total de ácidos graxos saturados para indivíduos saudáveis e < 7% do valor calórico total para aqueles com maior risco cardiovascular (BRASIL, 2017).

Ácidos graxos

A inadequação alimentar é a principal causa de mortalidade cardiovascular; ressaltando que o consumo de gordura saturada deve ser limitado, mas deve haver a substituição parcial por insaturadas, pois estas estão relacionadas à diminuição de colesterol total e LDL (BRASIL, 2017).

Ácidos graxos trans precisam ser excluídos da dieta, visto que aumentam a concentração plasmática de LDL e induzem lesão aterosclerótica. Já quanto ao colesterol alimentar, as atuais diretrizes internacionais sobre prevenção cardiovascular mostram que não há evidências suficientes para determinação de um valor de corte para seu consumo (BRASIL, 2017).

Para controle de triglicérides, alterações quanto à qualidade e quantidade de carboidratos e gorduras colaboram para sua redução, visto que TG é muito sensível a variações de peso no que tange à ingesta alimentar. Na hipertrigliceridemia primária grave, cujo aumento ocorre por diminuição da lipase, a dieta precisa ter, no máximo, 10% das calorias provenientes de lipídeos (BRASIL, 2017).

Já na hipertrigliceridemia primária moderada, recomenda-se que de 25 a 35% do valor calórico seja na forma de gorduras, mas faz-se necessário maior controle da ingestão de açúcares. Já na hipertrigliceridemia de causa secundária, percebida na obesidade e no diabetes, mantêm-se quantidades entre 30 e 35% de calorias derivadas de lipídeos, com ênfase na restrição de açúcares (BRASIL, 2017).

Carboidratos e fibras

A literatura aponta que açúcares de adição como sacarose, xarope de milho e presentes em sucos concentrados, mesmo que não adoçados; podem levar ao aumento de TG pós-prandial devido ao processo de metabolização da frutose, a qual gera ácidos graxos mais rapidamente do que a glicose, aumentando deposição de lipídeos no fígado e produção de VLDL (consumo superior de 50g ao dia) (MALESZA et al., 2021).

A ação das fibras solúveis na redução do colesterol está relacionada com a formação de um gel que se
liga aos ácidos biliares no lúmen intestinal, aumentando sua excreção nas fezes e reduzindo sua reabsorção no ciclo entero-hepático. Esse processo induz síntese de novos ácidos biliares, diminuindo o colesterol circulante (MALESZA et al., 2021).

Da mesma forma, os Ácidos Graxos de Cadeia Curta (AGCC), produzidos através da fermentação do amido resistente pelas bactérias intestinais no intestino grosso, também colaboram para redução plasmáticas das gorduras plasmáticas (MALESZA et al., 2021). 

PARA COLOCAR EM PRÁTICA:

  1. Inclua alimentos fontes de gorduras insaturadas para consumo diário no plano alimentar do seu paciente, como mix de sementes e oleaginosas combinado com frutas (in natura e desidratadas, como maçã).² A literatura aponta que a ingestão de 2 a 4g/dia de ômega-3 pode reduzir a concentração plasmática de TG de 25 a 30%.²
  2. Oriente seu paciente a evitar ao máximo produtos que tenham gordura trans.²
  3. Conforme as atualizações internacionais, no momento, não há uma quantidade estabelecida de valor de corte de consumo de colesterol exógeno, do ponto de vista do risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares.²
  4. Hipertrigliceridemia primária grave: o aumento dos ácidos graxos ocorre por diminuição da lipase e a dieta precisa ter, no máximo, 10% das calorias provenientes de lipídeos.²
  5. Hipertrigliceridemia primária moderada: recomenda-se que de 25 a 35% do valor calórico seja na forma de gorduras, mas faz-se necessário maior controle da ingestão de açúcares. Complemente a dieta do seu paciente com grãos integrais de baixo índice glicêmico, como quinoa e arroz integral
  6. Hipertrigliceridemia de causa secundária: percebida na obesidade e no diabetes, mantêm-se quantidades entre 30 e 35% de calorias derivadas de lipídeos, com ênfase na restrição de açúcares. Apresente versões de produtos nutricionalmente equilibrados e isentos de açúcar na composição para ajudar seu paciente a fazer boas escolhas no mercado quando quiser variar a dieta.²
  7. Inclua aveia no plano alimentar do seu paciente para atingir a recomendação de 25g/dia de fibra, sendo 3g de fibras solúveis, com ênfase para a betaglucana.1,2
  8. Para controle do peso, as diretrizes recomendam déficits de 500 a 1000kcal, conforme avaliação individualizada; pois o ajuste da composição corporal pode resultar na redução de cerca 20% da concentração plasmática de TG.²

REFERÊNCIAS

1. MALESZA, Ida Judyta et al. High-Fat, Western-Style Diet, Systemic Inflammation, and Gut Microbiota: a narrative review. Cells. Polônia, p. 1-31. 14 nov. 2021. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34831387/. Acesso em: 28 jun. 2022.

2. BRASIL. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose – 2017. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. Rio de Janeiro, p. 1-76. ago. 2017. Disponível em: https://abccardiol.org/wp-content/uploads/articles_xml/0066-782X-abc-109-02-s1-0001/0066-782X-abc-109-02-s1-0001.x27815.pdf. Acesso em: 29 jun. 2022.

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