A nutrição desempenha um papel essencial em cada fase da vida, desde a programação metabólica na concepção até o desenvolvimento do feto e a saúde da mãe durante a gestação. A alimentação adequada não só influencia o bem-estar imediato da mãe e do bebê, mas também tem impactos de longo prazo na saúde metabólica e no risco de doenças crônicas.
Durante a gestação, por exemplo, a nutrição adequada pode prevenir complicações como a diabetes gestacional e a hipertensão, além de promover um desenvolvimento fetal saudável. No entanto as orientações nutricionais variam conforme as necessidades específicas de cada fase da vida, exigindo que os profissionais de nutrição estejam sempre atualizados para fornecer as melhores recomendações possíveis.
Neste artigo, exploraremos como a nutrição deve ser ajustada ao longo das diferentes fases da vida, com foco na programação metabólica e gestação, oferecendo orientações práticas baseadas em evidências para que você possa aprimorar suas condutas clínicas e garantir o melhor cuidado às suas pacientes.
Importância da alimentação adequada no desenvolvimento fetal
Os efeitos da ingestão adequada ou inadequada de nutrientes antes e no período gestacional impactam a saúde do bebê – no curto e longo prazo –; portanto, para que um feto se desenvolva corretamente é necessário que receba, durante seu processo de maturação, os nutrientes necessários, assim como as quantidades necessárias (Bueno et al., 2023).
Uma dieta adequada em macro e micronutrientes, equilibrada para as demandas específicas de cada período gestacional, baseada em alimentos in natura, integrais, e minimamente processados, além de promover os inúmeros benefícios para a saúde da gestante, assim como reduzir os riscos de possíveis intercorrências no período gestacional, é fundamental para o desenvolvimento ósseo, cerebral e formação do sistema imunológico do bebê (Bueno et al., 2023).
Nutrição nos primeiros mil dias de vida.
A nutrição no início da vida, ou os primeiros mil dias da concepção até os dois anos de idade, pode ter um impacto significativo e duradouro no desenvolvimento de tecidos e órgãos. Esses efeitos, conhecidos como “programação”, são um fator de risco significativo para o desenvolvimento de doenças crônicas na idade adulta (Alves; Alves 2024).
Estudos epidemiológicos encontraram ligações entre exposições nutricionais no início da vida e resultados de saúde a longo prazo. A amamentação por mais de seis meses, por exemplo, foi associada a um risco reduzido de diabetes e obesidade (Alves; Alves 2024).
Outros estudos identificaram a gestação precoce como um período-chave de desenvolvimento, e a deficiência nutricional grave na infância foi associada a uma variedade de morbidades a longo prazo. Adultos que foram gravemente desnutridos quando crianças e, depois, expostos a um ambiente obesogênico são especialmente vulneráveis a anormalidades cardiometabólicas (Alves; Alves 2024).
Recomendações sobre nutrição durante a pré-concepção.
Evidências convincentes foram estabelecidas para a suplementação de rotina de ácido fólico antes da concepção. Alimentos de origem vegetal, incluindo vegetais de folhas verdes, repolho, legumes, produtos integrais, tomates e laranjas são boas fontes alimentares de folato, mas a suplementação adicional é fortemente recomendada (Koletzko et al., 2019).
A suplementação de pelo menos 400μg de ácido fólico por dia, começando antes da concepção e continuando no primeiro trimestre da gravidez, além de uma dieta rica em folato, reduz significativamente o risco de defeitos congênitos graves, em particular, defeitos do tubo neural (Koletzko et al., 2019).
Recomendações sobre nutrição para gestantes
Mulheres que não consomem peixes de forma regular devem ter como objetivo atingir uma ingestão diária total média de, pelo menos, 300mg de ômega-3 DHA, através da suplementação (cerca de 200mg de DHA) + ingestão alimentar (Koletzko et al., 2019).
Estudos mostram que o consumo regular de peixe, bem como a suplementação de ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa ômega-3 reduziram o risco de parto prematuro precoce antes de 34 semanas de gestação (Koletzko et al., 2019).
Também, deve-se ter uma atenção especial à suplementação alimentar com ferro, vitamina D, vitamina B12, iodo, vitamina A – que pode ser indicada a mulheres com risco de deficiência desses micronutrientes. As vitaminas do complexo B são necessárias para a saúde ideal na gravidez e para o crescimento fetal e desenvolvimento do cérebro (Koletzko et al., 2019).
Já a vitamina D é essencial, na gravidez, para manter a homeostase do cálcio materno e, portanto, para o desenvolvimento ósseo-fetal. A deficiência materna de vitamina D pode resultar em raquitismo infantil e osteopenia no recém-nascido e foi associada ao baixo peso ao nascer, aumento do risco de hipocalcemia neonatal, insuficiência cardíaca e redução da densidade óssea na infância (Koletzko et al., 2019).
Recomendações sobre nutrição para mulheres que amamentam
A nutrição materna equilibrada antes e no período de amamentação pode afetar o estado nutricional materno e o peso corporal saudável, bem como o fornecimento de alguns nutrientes pelo leite materno ao bebê (Koletzko et al., 2019).
Sendo assim, a nutrição adequada em cada fase da vida, desde a programação metabólica até a gestação e amamentação, é crucial para promover a saúde a longo prazo tanto da mãe quanto do bebê. A educação nutricional desempenha um papel vital nesse processo, capacitando as mães a fazer escolhas alimentares informadas que beneficiarão o desenvolvimento do bebê e a sua própria recuperação pós-parto.
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Referências
BUENO, D. L. de C.; et al. O impacto da alimentação durante a gestação no desenvolvimento fetal ósseo, cerebral e imunológico. Brazilian Journal Of Surgery And Clinical Research, [s. l.], v. 45, n. 1, p. 112, 2023. Disponível em: https://www.mastereditora.com.br/periodico/20231201_223033.pdf. Acesso em: 30 ago. 2024.
ALVES, J. G. B.; ALVES, L. V. Early-life nutrition and adult-life outcomes. Jornal de Pediatria, [s.l.], v. 100, p. 4-9, mar. 2024. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC10960187/. Acesso em: 30 ago. 2024.
KOLETZKO, B.; et al. Nutrition During Pregnancy, Lactation and Early Childhood and its Implications for Maternal and Long-Term Child Health: the early nutrition project recommendations. Annals Of Nutrition And Metabolism, [s.l.], v. 74, n. 2, p. 93-106, 2019. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30673669/. Acesso em: 30 ago. 2024.
